sábado, 29 de novembro de 2008

Frango com Ameixas: Marjane Satrapi

 frango_com Marjane Satrapi está de volta. Uma história curta, porém simpática e deliciosa como Persepolis, livro anterior de Satrapi lançado no Brasil, já comentado aqui no blog. Nasser Ali é um músico reconhecido, tocador do Tar, instrumento típico da cultura persa. Certo dia, em uma discussão, sua esposa- com a qual havia se casado sem verdadeiro interesse - quebra o valioso instrumento, o que leva Ali a um suicídio premeditado e não muito convencional. O tar, ganhado do seu mestre, era a vida de Ali, por causa da música em si, mas também das lemvranças e do símbolo que ele representa de um acontecimento do passado: sua paixão nunca superada por uma outra mulher.

Marjane narra a decadência emocional, a reação dos filhos - um deles, um pirralho insuportável - e os oito dias que trancorrem desde que Ali decide morrer até o momento em que Azrael, o Deus da morte na mitologia persa, vem ao seu encontro. Mas não não pense que se trata de um dramalhão. Satrapi continua com o humor afiado e com a narrativa da comédia familiar que a consagrou em Persépolis. É a combinação perfeita que faz da autora um sucesso mundial: uma história tocante, muitas vezes fatídica, mas contada de um perspectiva pessoal, empática, sem soar pretencioso. Vale lembrar também que trata-se de uma história auto-biográfica. Nasser Ali era tio-avô de Satrapi, e a história se passa antes mesmo do nascimento da autora.

Antológico!!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

JOE SACCO

palestina2 Aff, tem gente que é gênio mesmo. E nasceu pra fazer algo inteligente e útil na vida. Joe Sacco é o cara!!!. Nascido em Malta, criado na Austrália e EUA ficou conhecido no mundo todo após praticamente fundar um gênero: o jornalismo em quadrinhos. O trabalho mais conhecido são os dois livros da série Palestina (Conrad), em que Sacco exibe com textos e desenhos as nunces do conflito Israel-Palestina. O segundo livro é dedicado exclusivamente à Faixa de Gaza, a região com maior concentração de Palestinos e uma das áreas mais delicadas do conflito.
Pode conferir que é Antológico!!!!
the fixer Outra dica bacana é Uma História de Sarajevo (Conrad), em que Sacco "convive com Neven, um ex-combatente que sobrevive como guia de jornalistas". Este eu ainda não li. Acabei de receber. Vou dar uma olhada e volto aqui pra postar a resenha.
Todos os livros de Joe Sacco lançados por aqui foram editados pela Conrad, esta editora que por pouco não é uma das melhores do Brasil. O catálogo é excelente, repleto de histórias em quadrinhos e livros relacionados à cultura pop. Ao lado, a foto da capa de "Um História..." na edição da Phantagraphics, editora americana de Sacco.

terça-feira, 1 de abril de 2008

o morro dos ventos uivantes: a maior maravilha literária da terra


Meu artigo de conclusão de curso será sobre este livro escrito por jovem de vinte e poucos anos, introspectiva ao extremo e com uma biografia tão misteriosa como fascinante: Emily Jane Brontë. Acabo de comprar/receber uma das edições brasileiras da obra a cargo da editora Landy. Uma edição memorável, bem acabada, cheia de "extras" que incluem prefácios, a nota biográfica escrita pela irmã de Emily, Charlotte Brontë, ensaios críticos da época, enfim, um belo dossiê.
Esta publicação merece destaque, levando-se em consideração as escassas fontes de pesquisa sobre a autora em português. Meu fascínio com O Morro... começou quando o li há uns dois anos atrás. Foi um choque, algo totalmente diferente de qualquer coisa que eu havia lido. Até agora não pude compará-lo a nada, nem antes, nem depois e quanto mais pesquiso sobre a obra e sua autora, mais interessada e instigada eu fico. Fica a deixa pra quem quiser se aventurar pela leitura desta obra ABSOLUTAMENTE ANTOLÓGICA!!!!!!

Pequena Resenha
O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë (tradução de Renata Maria Parreira Cordeiro e Eliane Gurjão Silveira Alambert; Landy; 432 páginas; 50 reais) – Já existiam cinco traduções dessa obra-prima do romantismo inglês no Brasil, mas essa nova edição é um primor, uma bela aquisição para qualquer biblioteca de clássicos. Ela traz quadros cronológicos do período, quadros genealógicos da família Brontë, perfis da autora – que morreu em 1848, aos 30 anos – e um apanhado de comentários críticos desde a época do lançamento do livro até hoje. Com sua atmosfera lúgubre, O Morro dos Ventos Uivantes é uma história de amor atormentado, mas também uma espécie de romance metafísico sobre o homem em confronto com os "poderes eternos". "Um dos mais belos livros da literatura de todos os tempos", dizia o francês Georges Bataille em 1957, enquanto o crítico americano Harold Bloom sentenciou, em 2002: "Uma obra de uma grandiosidade solitária".

Leia o primeiro capítulo da obra aqui

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Leituras: Arte, Inimiga do Povo - Conrad


Este blog recomenda Arte, Inimiga do Povo ,(Conrad, 207p)indispensável para quem acompanha cultura e quer refletir sobre arte. A frase lapidar do autor Roger L. Taylor, professor universitário britânico é: "a arte não passa de uma grande farsa, um jogo de cena das classes dominates para vender seu estilo de vida como algo superior e elevado". Há nessa assertiva, um certo ranço marxista que, em se tratando de arte, as vezes não deve ser levado muito a sério. Agora, a idéia realmente interessante de Taylor é a da adoção e apologia de manifestações culturais originalmente populares por cultos críticos brancos de classe alta. O jazz, por exemplo, ignorado como arte de pobres e negros, posteriormente foi aceito como expressão artísitca elevada. Taylor traça todo este processo em um dos melhores capítulos do livro chamado "Um alerta sobre a influência corruptora da arte na cultura popular".
Altamente recomendado!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Leituras: Sexo, Arte e Cultura Americana - Camille Paglia - Companhia das Letras


O livro “Sexo, Arte e Cultura Americana” é um achado, esgotado há anos, é um caso de desaparecimento - pois não há referência a obra nem mesmo no site da editora que o lançou no Brasil. Um desastre editorial, pois é justamente o livro pelo qual podemos conhecer o pensamento de Camille Paglia, intelectual feminista (ou anti-feminista, dependendo do ângulo) americana que se tornou uma estrela acadêmica no princípio da década de 90 e possui as idéias mais tresloucadas e brilhantes de toda esta década.
Paglia teve sua formação em universidades públicas e finalmente na elitizada Yale em Nova York. Seu mentor intelectual foi ninguém menos que Harold Bloom, crítico literário mais badalado atualmente e bíblia a qual todo jornalista recorre quando vai escrever sobre os clássicos. A ascensão de Paglia se deu em 1990, quando lançou seu livro Personas Sexuais, em que trata de séculos de historia do sexo e as artes no ocidente. O lançamento sem alarde e sem resenhas bombásticas, em poucos meses deslanchou a carreira de Paglia, que, de uma desconhecida do grande público, se tornou figura requisitada por toda em toda a mídia. Os detalhes desta trilha do sucesso são contados em um capítulo do livro. A consagração foi uma conferência do MIT com centenas de pessoas disputando lugar por corredores e salas.
Em Sexo, arte...estão compilados ensaios, artigos, resenhas de livros e trechos de entrevistas concedidas a diversos veículos de comunicação. Uma amostragem que expõe a grande qualidade de Paglia: seu vigor intelectual e, principalmente, verbal. Mesmo não concordando com a agenda da escritora (“sou abertamente a favor da prostituição, da pornografia”), não há como não se render ao seu estilo cáustico, estridente e de uma arrogância sem solenidade. Paglia é portadora de erudição clássica e mesmo assim, escreve à maneira rude e crua dos americanos. Seu pensamento é povoado de referências históricas à cultura helênica, o que dá muito de consistência nas assertivas feitas por ela. Polêmica, despudorada, com idéias exageradamente liberais, Camille Paglia é a doida varrida mais brilhante da América.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Leituras: Madame Bovary - Gustave Flaubert

Ai de ti, romantismo.
Uma data comemorativa sobre Madame Bovary é um bom pretexto para se escrever sobre este livro sensacional. Escrito em fins do século XIX, o romance conta a história de Emma Bovary, personagem central do livro escrito pelo francês, Gustave Falubert. Casada com um médico provinciano, Emma não se agüenta de tédio de uma vida sem novidades. Em busca de aventuras, a jovem começa a trair o marido exemplar com jovens galantes e igualmente inescrupulosos. Emma mente, contrai dívidas, engana descaradamente o pacato e apaixonado Dr. Bovary.
Antes de mais nada, trata-se de uma história tocante de humanidade, a partir do momento em que nos identificamos com Emma em sua faina de viver uma vida mais aventuresca, rechaçando a monotonia de uma existência muitas vezes comum, reles. Depois é uma crítica ácida à ideologia romântica, pois demonstra a impossibilidade de se viver aquém das regras sociais que prevêm um comportamento sempre pré-estabelecido: Emma deveria viver e morrer junto ao exemplar Dr. Bovary e sua vizinhança insossa. E por fim, é um livro de erotismo inclassificável, o melhor deles. Mesmo não havendo uma referência explícita, todos os momentos sórdidos de Emma com seus amantes são de tirar o fôlego.
Não é preciso dizer que um livro assim tão ousado não passou incólume pelos patrulheiros conservadores do século XIX. Flaubert teve de atender à um processo público e responder sobre a imoralidade da obra. Mas tudo passou, e ao lado de “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queirós, é um dos livros mais deliciosamente escandalosos do século XIX. Simplesmente antológico!

Aviso aos navegantes: a obra não é das mais fáceis de se ler. O estilo de Flaubert é lento e a construção do livro é minuciosa, mas vale a pena insistir.

Três livros e muita história: Llosa, John Boyne e Chimamanda Adichie

Dois assuntos favoritíssimos da vida: literatura e história. O primeiro eu estudei formalmente na facul, apesar de ter lacunas muitos sér...