Ai de ti, romantismo.
Uma data comemorativa sobre Madame Bovary é um bom pretexto para se escrever sobre este livro sensacional. Escrito em fins do século XIX, o romance conta a história de Emma Bovary, personagem central do livro escrito pelo francês, Gustave Falubert. Casada com um médico provinciano, Emma não se agüenta de tédio de uma vida sem novidades. Em busca de aventuras, a jovem começa a trair o marido exemplar com jovens galantes e igualmente inescrupulosos. Emma mente, contrai dívidas, engana descaradamente o pacato e apaixonado Dr. Bovary.
Antes de mais nada, trata-se de uma história tocante de humanidade, a partir do momento em que nos identificamos com Emma em sua faina de viver uma vida mais aventuresca, rechaçando a monotonia de uma existência muitas vezes comum, reles. Depois é uma crítica ácida à ideologia romântica, pois demonstra a impossibilidade de se viver aquém das regras sociais que prevêm um comportamento sempre pré-estabelecido: Emma deveria viver e morrer junto ao exemplar Dr. Bovary e sua vizinhança insossa. E por fim, é um livro de erotismo inclassificável, o melhor deles. Mesmo não havendo uma referência explícita, todos os momentos sórdidos de Emma com seus amantes são de tirar o fôlego.
Não é preciso dizer que um livro assim tão ousado não passou incólume pelos patrulheiros conservadores do século XIX. Flaubert teve de atender à um processo público e responder sobre a imoralidade da obra. Mas tudo passou, e ao lado de “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queirós, é um dos livros mais deliciosamente escandalosos do século XIX. Simplesmente antológico!
Aviso aos navegantes: a obra não é das mais fáceis de se ler. O estilo de Flaubert é lento e a construção do livro é minuciosa, mas vale a pena insistir.
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