Apenas no capítulo 13 do segundo volume,
depois de quase 600 páginas lidas, alguém começa a explicar alguma coisa em
1q84. Não que isso seja ruim, porque a experiência de leitura é hipnótica.
Conseguir que alguém leia um livro tão afoitamente sem entender onde as coisas
estão indo talvez seja um dos talentos de Haruki Murakami. Do autor, este blog
já já leu “Do que falo quando falo de corrida” livro biográfico em que
Murakami nos conta sobre seu hobby de correr grandes distâncias: fascinante pra
quem gosta de corrida ou não.
Talento confirmado. A história é contada em
capítulos intercalados, um para descrever as histórias de Aeomame, uma moça que
além de trabalhar em uma academia, “envia pra o outro lado” homens que tem um
histórico de violência contra as mulheres. Outro capítulo é dedicado à Tengo,
professor de matemática e escritor nas horas vagas. Aos poucos vamos sabendo
que embora vivendo de maneira diferente e sem nenhum contato um com outro, a
história dos dois já se conectou em algum ponto e ambos irão se encontrar
novamente em um mundo que não possui a mesma lógica a que estamos acostumados.
Impossível tentar resumir 1q84. Temos uma moça que
escreveu um livro sobre criaturas conhecidas como “the little people”, envolve
a passagem de Aeomame para um mundo onde existem duas luas. Tengo, nosso
escritor terá a tarefa de reescrever – ou transcrever – o livro pra uma
linguagem mais literária. O livro se tornará um best seller. A história –
iremos descobrir depois – é real... confuso? Demais, mas de alguma maneira o
autor vai colocando tudo isso no papel e nós leitores vamos devorando tudinho,
página a página.
A imaginação de Murakami é uma maravilha.
Tudo é descrito de maneira detalhada sem nunca ser chato. Os personagens
conversam muito, temos uma ideia muito viva sobre todos eles, enquanto o autor
não economiza nós leitores nos deleitamos. Há referencias à livros (o título já
é uma óbvia referencia à 1984 de George Orwell), cinema, música... Mesmo que às
vezes pensemos: ele poderia ter contato isso tudo economizando muitas palavras, isso não se torna um problema porque o mundo do livro é um lugar legal pra se estar, nos sentimos bem nele.
Outro perigo que me fez ter cautela no começo é o fato de em cada capítulo termos
um personagem conduzindo a narrativa. Sempre que isso acontece tenho a
impressão de que o livro tende a oscilar e acabamos por achar um personagem
mais interessante que o outro: isso não acontece aqui, mais um ponto pro
japonês.
Algum crítico notou que o Japão inteiro
parece estar contido no livro. É uma boa descrição. Coletores de mensalidades
de tv, religiosos, o sistema escolar, tudo é muito vivo nesse sentido –
lembrando que a história se passa em 1984. Na metade do terceiro volume parece
que vamos cansando um pouco e esperamos logo pela resolução da trama, mas isso
é apenas uma impressão. Logo, logo Murakami encontra algo para nos prender à
história novamente e assim vamos caminhando para o final triunfante.
A história, como seu mundo paralelo surreal, vai encontrar o “mundo real” e a natureza dessa ideia parece ser um dos temas do livro. Os personagens Tengo e Aeomame estão conectados por um evento quando os dois frequentavam a escola juntos vinte anos antes. O fim irá unir os dois de uma maneira belíssima. É ficção para aquecer o nosso intelecto e coração. Antológico!
A história, como seu mundo paralelo surreal, vai encontrar o “mundo real” e a natureza dessa ideia parece ser um dos temas do livro. Os personagens Tengo e Aeomame estão conectados por um evento quando os dois frequentavam a escola juntos vinte anos antes. O fim irá unir os dois de uma maneira belíssima. É ficção para aquecer o nosso intelecto e coração. Antológico!
3 comentários:
Daiane,
Você está lendo esta trilogia em português na edição brasileira?
Pergunto porque pelo visto somente eu me decepcionei com a tradução.
Alguns termos como "minha namorada mais velha veio hoje" e outros secos como se fosse um robô me fez abandonar a leitura. Quero tentar outra edição ou em inglês.
Olá kaisa! Li a versão em inglês e a leitura fluiu muito bem! Como não conheço a tradução, não posso comparar! Abraço!
Vou ler. Fiquei curiosa desde viverparaler.
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