segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

1968 o ano que não terminou - Zuenir Ventura

A história começa com o revillon na casa de Heloísa Buarque de Holanda, a Helô. Uma festa onde aconteceu de tudo! O ano era a virada 1967-1968. A partir deste momento Zuenir Ventura vai contar através de realtos e de sua própria memória os acontecimentos da época que resultou no AI 5. Mesmo com a seriedade dos eventos não há como não se divertir com a narrativa que conta episódios corajosos, dramáticos. Um deles teve como centro a exibição da peça de José Celso Martinez "Roda Viva". Escrita por Chico Buarque, o diretor se aproveitou do fato de o público de Chico ser majoritariamente a classe média comportada e brindou a platéia com um show de horrores: "No cor­re­dor do tea­tro iniciava-se um ritual antro­po­fá­gico no qual as atri­zes repre­sen­tando fãs dis­pu­ta­vam, estra­ça­lha­vam e devo­ra­vam um fígado de boi cru, sim­bo­li­zando o cora­ção do can­tor que aca­bava de mor­rer. Não raro, aque­les que esta­vam sen­ta­dos nas pol­tro­nas do meio junto ao cor­re­dor, eram atin­gi­dos pelo san­gue ver­da­deiro que vinha do fígado, erguido pelas mãos cris­pa­das da faná­tica turba."
Este e outros episódios são contados no livro de Ventura além de todos os absurdos cometidos pelos censores. Um deles, exigiu a retirada das palavras "gorila", "vaca" e "galinha" da peça "um bonde chamado desejo" do americano Tenesse Williams. Detalhe: o nome do sensor era Leão. Estas e outras histórias, muitas delas sem este humor negro vão se seguindo em uma leitura deliciosa, esclarecedora e equilibrada pois em nenhum momento o autor parece tomar o lado de ninguém. Leitura recomendadíssima pra quem quer ler sobre este período sombrio da história brasileira. ANTOLÓGICO.

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