sexta-feira, 14 de março de 2014

Porque sou fã de Clarice Lispector

O ditos “leitores sérios”, aqueles que querem apreciar literatura mais artística, por assim dizer, costumam gostar de Clarice Lispector – hoje parte do cânone da literatura brasileira. Clarice, Guimarães Rosa e Machado de Assis são meus autores brasileiros favoritos (outros correm por fora, mas isso é tema pra outro post). Estes autores fazem parte de um clube de autores que eu chamo criadores de mundos. São artistas que inventaram um estilo próprio de escrever, tomaram para si uma temática e sua autoria pode ser reconhecida depois de lermos algumas linhas. É gente como Jorge Luis Borges, Nelson Rodrigues, Kafka. Enfim, gente que virou adjetivo: kafkiano, borgeano, rodriguiano, etc.
Clarice é colocada entre os autores do modernismo brasileiro. Ele, o modernismo, com o qual em tenho uma rusga. Autores ultramodernos nunca me apeteceram muito: escrita truncada, a narrativa que não flui e deve ser decifrada são algumas características que me deixam ressabiada com o movimento. Sempre gostei mais dos bons contadores de história do século XIX: Jane Austen, Balzac, Emily Bronte... Mas Clarice é diferente. A escrita tem gosto, existe um calor que sai das páginas mesmo que a história seja cheia de tristeza e ironia.
Meu primeiro contato com Clarice aconteceu com os rumores que eu ouvia na adolescência. Quando uma colega já no “segundo grau” me pegava devorando livros da Agatha Christie, ela dizia: “deixa quando você tiver que ler Clarice Lispector, os personagens dos livros dela não tem nome (sic)”. Depois foi uma professora de português que nos falava de autores que nunca leríamos com uma aura de mistério, como se apenas iniciados na ciência oculta da leitura tivessem acesso. Só muitos anos depois eu finalmente peguei a coletânea “Laços de Familía”, ah meus amigos, algo aconteceu ali. O que era aquilo hein? Nunca me recuperei.
Meu favorito até o momento é “A Hora da Estrela”. A sucessão de títulos possíveis da obra já no começo é sensacional: “A culpa é minha ou a hora da estrela ou ela que se arranje ou o direito ao grito...” “Ela que se arranje”, será que apenas eu acho graça nesse possível título? A Hora é um livro que contém tudo que mais gosto em Clarice: intimismo na narrativa (com um narrador em primeira pessoa, óbvio), uma personagem que é engraçada e triste, conflito de emoções e sacadas maravilhosas sobre nosso mundo interior. Já no comecinho: “E não esquecer que a estrutura do átomo não é vista e sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi. E vós também. Não se pode dar existência ao que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar, acreditar chorando.” É uma pancada dessa atrás da outra: fantasticamente antológico!!!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lista: 3 tesouros ainda não descobertos na estante

Em um dos meus últimos vídeos no youtube, disse que esse ano eu iria parar de comprar livros e ler as coisas que eu tenho em casa. Alguém muito sabiamente já saiu com o comentário: “esse é o mantra de todo leitor”. Risos. Verdade, leitor viciado tem um monte de coisa na estante ainda por ler e sempre faz a promessa de lê-los: raramente cumpre. Primeiro por causa da promoções. Como todos temos uma wishlist ou “lista de querências”(termo que eu adoro), sempre que aparece uma promo com alguns dos títulos da lista de desejos, somos acometidos por uma urticária terrível: como é difícil se segurar.
Eu estou tentando levar meu plano à sério. Estou passeando pela minha estante e separei algumas coisas que precisam ser lidas. Antes de tudo porque são boas, segundo porque já tem livro comprado amarelando na estante há anos (sem exagero). Vamos a lista de alguns deles:

Retrato de Uma Senhora – Henry James (Penguin Classics)
Fiquei fascinada com a narrativa de “A Volta do Parafuso” de Henry James. Tudo funciona: o suspense, a narrativa densa. Me prometi ler no original. “O Retrato...” é um dos grandes livros do autor. Minha curiosidade foi despertada quando li “Fun Home”, quadrinho da Alison Bechdel que cita vários livros durante a história, um deles este de James. Está ali, bonitinho, com folhas já amarelando numa daquelas edições da Penguin Classics.

Os Dez Amigos de Freud – Sergio Paulo Rouanet (Companhia das Letras)
A ideia deste livro é fabulosa. Rouanet se aproveita do fato de um editor vienense ter enviado uma proposta à Freud: listar dez bons livros. Freud listou aqueles que seriam seu “livros amigos”. Rouanet é filósofo, diplomata, ensaísta, etecetera (além de membro da academia brasileira de letras), analisa cada livro da lista, seu autor, contexto e relação com a teoria psicanalítica. Parece um daqueles livros que sevem para nos educar, nos ensinar sobre autores novos, história, lugares. O começo do primeiro volume é uma delícia, nos contando um pouco sobre a rotina de Freud: “Normalmente o professor Sigmund Freud começava sua rotina às oito da manhã. Só interrompia suas atividades para o almoço, e voltava a trabalhar até o cair da noite. Era quando jantava...”. Espere por mim!

Meio Sol Amarelo – Chimamanda Adichie (Companhia das Letras)
Autora recomendadíssima pela Denise, do blog Cem Anos de Literatura. Há mais de um ano assisti ao vídeo em que ela falava com tanto entusiasmo sobre esta autora nigeriana. A narrativa parece mesclar literatura e história, uma mistura que eu costumo adorar. Além do mais é preciso ler autores contemporâneos pois sempre ando perdida lendo coisa do século XIX (ultimamente estou numa obsessão com os franceses). Devo ler ainda no primeiro semestre deste ano. E vamo que vamo! Tentar cumprir a sempre frustrada promessa de ler o que está em nossas estantes. Vale a tentativa.

Três livros e muita história: Llosa, John Boyne e Chimamanda Adichie

Dois assuntos favoritíssimos da vida: literatura e história. O primeiro eu estudei formalmente na facul, apesar de ter lacunas muitos sér...