sexta-feira, 11 de abril de 2014

1Q84 - Haruki Murakami - Ed. Objetiva

Apenas no capítulo 13 do segundo volume, depois de quase 600 páginas lidas, alguém começa a explicar alguma coisa em 1q84. Não que isso seja ruim, porque a experiência de leitura é hipnótica. Conseguir que alguém leia um livro tão afoitamente sem entender onde as coisas estão indo talvez seja um dos talentos de Haruki Murakami. Do autor, este blog já já leu “Do que falo quando falo de corrida” livro biográfico em que Murakami nos conta sobre seu hobby de correr grandes distâncias: fascinante pra quem gosta de corrida ou não.
Talento confirmado. A história é contada em capítulos intercalados, um para descrever as histórias de Aeomame, uma moça que além de trabalhar em uma academia, “envia pra o outro lado” homens que tem um histórico de violência contra as mulheres. Outro capítulo é dedicado à Tengo, professor de matemática e escritor nas horas vagas. Aos poucos vamos sabendo que embora vivendo de maneira diferente e sem nenhum contato um com outro, a história dos dois já se conectou em algum ponto e ambos irão se encontrar novamente em um mundo que não possui a mesma lógica a que estamos acostumados.
Impossível  tentar resumir 1q84. Temos uma moça que escreveu um livro sobre criaturas conhecidas como “the little people”, envolve a passagem de Aeomame para um mundo onde existem duas luas. Tengo, nosso escritor terá a tarefa de reescrever – ou transcrever – o livro pra uma linguagem mais literária. O livro se tornará um best seller. A história – iremos descobrir depois – é real... confuso? Demais, mas de alguma maneira o autor vai colocando tudo isso no papel e nós leitores vamos devorando tudinho, página a página.
A imaginação de Murakami é uma maravilha. Tudo é descrito de maneira detalhada sem nunca ser chato. Os personagens conversam muito, temos uma ideia muito viva sobre todos eles, enquanto o autor não economiza nós leitores nos deleitamos. Há referencias à livros (o título já é uma óbvia referencia à 1984 de George Orwell), cinema, música... Mesmo que às vezes pensemos: ele poderia ter contato isso tudo economizando muitas palavras, isso não se torna um problema porque o mundo do livro é um lugar legal pra se estar, nos sentimos bem nele. Outro perigo que me fez ter cautela no começo é o fato de em cada capítulo termos um personagem conduzindo a narrativa. Sempre que isso acontece tenho a impressão de que o livro tende a oscilar e acabamos por achar um personagem mais interessante que o outro: isso não acontece aqui, mais um ponto pro japonês.
Algum crítico notou que o Japão inteiro parece estar contido no livro. É uma boa descrição. Coletores de mensalidades de tv, religiosos, o sistema escolar, tudo é muito vivo nesse sentido – lembrando que a história se passa em 1984. Na metade do terceiro volume parece que vamos cansando um pouco e esperamos logo pela resolução da trama, mas isso é apenas uma impressão. Logo, logo Murakami encontra algo para nos prender à história novamente e assim vamos caminhando para o final triunfante.
A história, como seu mundo paralelo surreal, vai encontrar o “mundo real” e a natureza dessa ideia parece ser um dos temas do livro. Os personagens Tengo e Aeomame estão conectados por um evento quando os dois frequentavam a escola juntos vinte anos antes. O fim irá unir os dois de uma maneira belíssima. É ficção para aquecer o nosso intelecto e coração. Antológico!

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