quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Tempo para leituras - que não sejam os livros

Livro é o que eu mais leio. O hábito de ler livros sistematicamente, ou seja, um atrás do outro eu adquiri muito tarde. Posso dizer que compro livros desde os 17 anos, mas só fui realmente lê-los mais de 10 anos depois. Em 2010, passei seis meses em BH, estudando em uma das disciplinas isoladas do mestrado em Inglês da Universidade Federal de Minas Gerais. A matéria era sobre literatura americana, algo como “questões de gênero, raça e linguagem”. Lemos ótimos livros de autores negros, mulheres e obras dos autores mais experimentais como Thomas Pynchon e William Faulkner. Foi ótimo, o mestrado não foi pra frente, mas foi uma experiência fundamental ler, discutir e escrever sobre livros incríveis. Passei o semestre tendo que ler um livro por semana praticamente e foi esse esquema que me acostumou a ler constantemente. Passei até a conta-los: em 2011 foram 45, em 2012, 50 livros, em 2013 a conta caiu, mas tudo bem: 28 livros lidos
O que eu lia antes disso? Lia sobre os livros e não os livros em si. Lia muito revistas e coisas online, jornais etc. Recortava e guardava resenhas em uma pasta (um dos sonhos da minha vida é reencontrar essa pasta que se perdeu na casa de alguns dos meus irmãos), o que me ajudou muito quando consegui comprar mais livros: aprendi sobre autores que valeriam mesmo a pena ler. Quando comecei a frequentar livrarias e levar mais coisas pra casa, eu já sabia o que queria.
O problema é que agora a questão se inverteu: como ler periódicos? Sinto uma sensação de culpa toda vez que passo horas lendo coisa na internet. Sou assinante de uma revista brasileira e vi várias vezes uma pilha se formando com os exemplares se acumulando ainda no plástico. Não vou entrar no mérito da qualidade das publicações brasileiras, mas sei que existe muita coisa bacana pra se ler. Eu particularmente gosto do jornalismo americano, como a página cultural do The New York Times ou da revista The New Yorker. Em uma viagem recente à Buenos Aires, descobri uma publicação chamada 'Brando' que traz dicas de séries, livros, matérias interessantíssimas: o jornalismo cultural Porteño parece ser de primeira.
Outra revista muito legal é a “The Believer” fundada pelo autor americano hiper-hype Dave Eggers (preciso ler). Tem como um dos seus colunistas o britânico Nick Hornby – autor do também livro-hype Alta Fidelidade. As resenhas de livros são ótimas, tem matérias sobre literatura, música e cinema: coisa fina. Ah, e quem desenha as capas é ninguém menos que o Charles Burns (autor de “Black Hole” conhece?).
Mas onde está o tempo pra ler isso? Todo leitor viciado que se preze tem uma lista interminável de livros que quer ler, quer ter. Como faz? Nos últimos tempos tenho tentado liberar um dia da semana pra acompanhar essas publicações, tirar um dia pra ler revistas, jornais e sites bacanas como The Flavor Wire. E sim, fazer isso sem culpa de estar deixando os livros de lado. Foi a solução que encontrei, vamos ver se a pilha da revista assinada para de existir. Tomara.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A saga do livro pela metade

Vamos falar sobre os livros deixados pela metade e suas razões. Não gosto de abandonar livros, principalmente aqueles que comprei, me deixa uma sensação ruim de uma compra mal feita, tempo e dinheiro desperdiçado. Muitas vezes deixamos um livro não inteiramente lido o que é algo diferente, tentar entender porque o livro foi deixado pela metade é um exercício interessante para entender nossas manias de leitor. Alguns exemplos:

O Vermelho e o Negro – Stendhal (Penguin Classics)
Vou usar a frase que já ouvi muitos dizerem: não era a hora certa. As história muito boa, o personagem principal dos mais enigmáticos, o fundo histórico da França politicamente dividida do século XIX que eu adoro, mas... a história se arrastava e no fundo, no fundo não é questão de ‘timing’, é que talvez eu atravessasse um dos momentos preguiça de leitura que às vezes se abate sobre o mais viciado leitor: um daqueles momentos que a gente quer é assistir coisas (filmes, séries) ou navegar na internet sem compromisso: deixar a mente vagabundear. Creio que a leitura será retomada em breve. Farei uma tentativa.

Solos, improvisos e memórias musicais. – Nelson Mota (Ponto de Leitura)
Mota é lendário conhecedor da música brasileira. Eu sou fã da música geração-Gal Costa-Chico-Caetano-e-companhia-limitada. Fui atraída pelo livro. O problema que o título na capa ‘improviso’ não é à toa, o autor não segue uma história encadeada, simplesmente vai mandando umas histórias soltas enquanto acompanha sua carreira com compositor e crítico musical. Livro confuso que eu já retomei algumas vezes para ler ao acaso enquanto escutava um disco da Gal ou Maria Bethania. Não sei se vai.

Os Diários de Victor Klemperer - Victor Klamperer (Companhia das Letras)
Obra longuíssima, com este sobrevivente da segunda guerra mundial, suas auguras comentadas dia após, dia ou semana após semana. Interessantíssimo para acompanharmos bem aos poucos a escala de opressões à comunidade judaica: primeiro ele perde o emprego, depois a casa, depois o direito de sair a noite, depois o uso da estrela, os casos cada vez mais frequentes de pessoas que iam ser interrogadas pela gestapo e nunca mais voltavam... o problema é que chega um momento em que é preciso um pouco de paciência para apreciar tantos detalhes. Mas a obra, o documento em si é fantástico e a leitura será sim terminada, aos poucos, mas será.

E aí? Qual leitor não tem histórias de livros deixados para trás...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os trabalhadores do mar – Victor Hugo - Cosac e Naify


Ilhas do Arquipélago da Mancha. Victor Hugo nos apresenta um universo em todos os seus aspectos: religião, geografia, historia em um texto acrescentado ao início desta edição. Essa espécie de prefácio se parece muito com o começo de ‘Os Sertões’ de Euclides da Cunha (livro que este blog está a ler). Detalhes e mais detalhes sobre os rochedos, as marés, as correntes de ar. Atravessada esta parte, quando enfim começamos a história que irá se desenrolar, aí sim temos o filé mignon: Hugo nos apresentando seus personagens: Gilliatt, Deruchette, Mess Lethierry, a Durande (um barco – sim um barco é parte importante da história). É um mais fascinante que o outro. Vamos nos ater a Gilliatt. Por um episódio ao acaso, Gilliatt, nosso herói, um solitário morador da ilha, tido por muitos como uma feiticeiro, homem de habilidades e intimidade com o mar, vai sem aviso arriscar a vida até um rochedo no meio do oceano para retomar a máquina perdida do naufragado barco a vapor do senhor Lethierry, outro morador com suas excentricidades – entre elas o anti clericalismo radical. Trabalho insano o resgate da Durande, que coloca nosso herói em luta excruciante com o mar e todos os seus elementos. A recompensa? O casamento com a doce Derruchete, filha do nosso ‘Mess’ – título conquistado a duras penas por Lethierry em uma sociedade divida socialmente cujo amor vai igual para o barco e a filha, a quem promete o casamento para o ser que conseguir resgatar a Durande. O fim da história? Só lendo esta obra fantástica que muitas vezes tem seus momentos ‘os sertões’, principalmente nas descrições dos engenhos de Gilliatt no rochedo: longas e cheias de detalhes que podem cansar o leitor. Mas vale a pena: a apresentação dos personagens é fascinante e apaixonante e o final, ah meus amigos... um final que só um escritor Romântico da estirpe de Hugo poderia nos brindar. E as reviravoltas da trama? E o naufrágio da Durande causando pelo aparente homem exemplo-de-conduta capitão Clubin? Antológico mes amis!!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Hamlet (ou tentando entender a grandeza de Shakespeare)


Já havia comentado algumas vezes minha dificuldade em gostar de Shakespeare. Já lidos do autor: Noite de Reis, A tempestade, MacBeth e Hamlet – talvez a obra mais estudada e escrutinizada da história da literatura. Li as peças com clara dificuldade para entender o que se passava e chegar às profundezas que levam a maioria dos críticos a colocar Shakespeare como o maior criador literário do ocidente. Estes dias me vi pensando mais uma vez sobre o assunto e repassando na minha cabeça o enredo de Hamlet consegui alcançar algo de uma iluminação. Talvez muita gente já houvesse percebido o fato  - e eu aqui dando uma de retardada: mas não é a genial a ideia do personagem que para vingar seu pai não pega em nenhuma arma e sai a matar cruelmente o autor do assassinato? Ao vez disso ele faz o que? Monta uma peça de teatro... uma peça dentro da peça e ali, encenando a morte do pai, ele consegue não a vingança em si, mas confirmar a culpa do assassino pela sua reação. Não é isso genial? Cheguei em casa e fui repassar algumas passagens do livro. Ganhei meu dia, consegui ter um pequeno lampejo da grandeza do bardo! Antológico!

Três livros e muita história: Llosa, John Boyne e Chimamanda Adichie

Dois assuntos favoritíssimos da vida: literatura e história. O primeiro eu estudei formalmente na facul, apesar de ter lacunas muitos sér...